terça-feira, 16 de março de 2010

No dia do seu aniversário de noventa anos, um velhote resolve se deitar com nada mais nada menos que uma mocinha virgem - que exalava a pureza de nunca ter sido tocada. Uma dessas loucuras das que vem com a idade ou sei lá, mas foi isso que ele fez, ou melhor, o que não fez: o velho tem sim uma noite com a menina, mas nada de sexo. Ele se apaixona por ela, é como um amor platônico ... com muito afeto, mas tudo muito longe dá realidade. Tanto que ele prefere que a garota esteja dormindo em todos os encontros, como também nunca a acorda e pouco faz questão de saber seu nome.
A paixão dá sentido a vida do ancião. É "Delagadina" - nome que ele dá a menina - quem o inspira a partir de então a escrever verdadeiras cartas de amor nas crônicas do jornal para o qual o velho escrevia.

Não ! Isso não é uma resenha, resumo ou o que for. Eu só estava fazendo uma pequena introdução pra não ir direto ao ponto que são os fragmentos M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O-S que podem ser tirados do livro ! Eis aqui, entre muitos outros, os meus favoritos:

"Minha única explicação é que da mesma forma que os fatos reais são esquecidos, também alguns que nunca aconteceram podem estar na lembrança como se tivessem acontecido. (...) Eu a havia sentido tão perto durante a noite que sentia o rumor de seu respirar no quarto de dormir, e a pulsação de sua face em meu travesseiro. "

" Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimi-das, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco. Virei outro. Tratei de reler os clássicos que me mandaram ler na adolescência, e não aguentei. Mergulhei nas letras românticas que tanto repudiei quando minha mãe quis -me forçar a ler e gostar, e através delas tomei consciência de que a força invencível que impulsionou o mundo não foram os amores felizes e sim os contrariados."